Segundo um ditado tuaregue, Deus criou o mundo com muita água para que os homens pudessem viver, e os desertos, para que nele pudessem reconhecer a sua alma. O deserto como um lugar aparentemente estéril, surge, então, como um imenso mar sem água.
Durante muito tempo peregrinei e palmilhei incansáveis quilômetros dessa areia fina e quente. Tudo era volumoso demais. Havia uma sensação permanente de vertigem. Era como se aquele vasto mar de areia, iluminado por um sólido céu protetor que, paradoxalmente também era pano de fundo para a desintegração de todo meu ser, de pronto me lançasse num vazio infinito. O que gerava um medo terrificante e quase palpável de uma entidade imprecisa, mas onipresente.
Peneirar meu deserto, aventura ao redor do eixo de mim mesma, apelo espiritual e contemplação silenciosa, revelou-se um bálsamo para as dores e angústias de grande parte de minha existência. E foi ali, naquele lugar digno e merecedor do meu respeito mais intenso, onde a areia é senhora de tudo, e as dunas reinam douradas, belas e silenciosas, que pude finalmente ancorar o peso insustentável dos processos de reelaboração e reparação do passado, uma dívida que parecia nunca ser quitada, já que a reconciliação nunca é garantida.
Mas há quem não se sinta bem com a imensidão do deserto. Majestoso e atroz, muitas vezes faz a vida parecer suspensa. E pode ser ainda mais perturbador, quando não se sabe ao certo o que se está deixando ir. E pode ser viagem sem volta a todo aquele que o procura exatamente para se perder.
Há quem não consiga calar suas vozes, cessar seus ruídos e viver sua paz - a beleza silenciosa do deserto nem sempre é reconhecida e trazida para os momentos mais áridos e doloridos da vida, aqueles onde o amor não é capaz de regar palavras fáceis e excessivas.
Há quem desconheça que seu deserto não é feito somente de dunas, vento, pó e areia fina. Desconhece que o encanto extraído da penúria, da ausência e da secura do chão arenoso por onde se pisa, pode ser exatamente a poesia que nos falte quando a vida caminha sob as sombras.
E o que faz uma pessoa querer peneirar seu deserto? Para mim foi a possibilidade de reconstruir o meu mundo. Apenas o meu mundo. Na medida da minha imaginação, sonhos e propósitos. Por isso, hoje ao caminhar pelo deserto já não me deparo somente com um ambiente árido e inóspito. Também encontro o éden. Lugar onde finalmente posso correr livre para existir e cumprir o que me cabe.
O deserto sempre irá me acompanhar, porém, toda aquela solidão e sensação de horizonte inatingível, isso, definitivamente ficou para trás. O percurso realizado até aqui, e que culmina nesse blog, contemplou em alguma medida uma espécie de luto, deixando para trás rastros de uma vida e de pessoas que já não estão em meu horizonte. Uma necessidade imperiosa, onde finalmente enterro todos os fantasmas que me assombravam, numa espécie de rito de passagem ou iniciação.
Hoje atendo ao chamado. Já não sou mais um grão de areia perdido entre tantos outros. Sou mulher. Livre para existir e viver plenamente minhas inquietações, desejos e projetos.
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