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Quais os caminhos possíveis a um percurso leve e feliz?

 

Quais os caminhos possíveis que levam a um percurso leve e feliz? Schopenhauer em uma de suas máximas, refere que o simples querer e poder não são suficientes para cumprir algo de bom. Para isso é necessário saber o que se quer, e o que se pode ter.

E assim é. Olhar a realidade despida de ilusão e ignorância é colocar em prática a máxima acima. Sem as distorções que muitas vezes fazemos para manter a ordem e o conforto, é necessário que mantenhamos uma postura ética e moral frente à vida, porque os caminhos que nos conduzem a um percurso leve e feliz não passam necessariamente por um estado idílico e harmonioso, um nirvana, mas sim, por uma luta diária, sangrenta e bárbara, que muitas vezes covardemente queremos fugir.

Quando enxergo o que em mim sangra e faz doer, é justamente aí onde encontro o que realmente me move a favor da vida. O que me dá rumo certo e direciona a minha existência. É na brevidade e efemeridade que acrescentam encanto ao viver, que me agarro e tento sobreviver aos pequenos apocalipses do cotidiano, e todos os demais agravantes que se tornam obstáculos para a felicidade. E dentro dessa vasta gama de obstáculos, nada poderia ser pior do que o medo de ousar, - porque risco é viver com todos os atenuantes do consumismo, evitar pensar e falar sobre velhice, solidão e morte.

Há que ter curiosidade pelo mundo, presença de fluxo, autonomia, liberdade e projetos. Porque a felicidade só pode ser fundada em três vias: no prazer, no compromisso e no significado. Por isso ela não é para todos. É somente para aqueles que sabem comprometer-se e posicionar-se frente a qualquer adversidade. Aos que sabem dizer sim a algumas coisas, e não a outras de forma decisiva e categórica.

E engana-se quem pensa que eu nasci em berço esplendido e vivi uma vida que sempre me sorriu. Ao contrário. Mas sempre aceitei e vivi com o que o mundo me deu, sendo assim, cedo aprendi que viver com limitações e precariedade pode ser caminho em direção à construção da própria felicidade. Mas nem todos conseguem esticar a cabeça para fora das próprias misérias e buscar meios de fazer acontecer.

Às vezes, para algumas pessoas é difícil entender que as coisas não são boas ou más, sucessos ou fracassos em si mesmos. É o modo como escolhemos encará-las que faz a diferença. Que ao invés de ficar chorando e reclamando, é preciso ter claro que lugar quer ocupar no mundo, e assim munir-se de criatividade e coragem, dois fatores importantes para promover a felicidade e ir a luta, porque nada de agradável acontece espontaneamente.

As pessoas felizes sabem que a felicidade não cai do céu, muito menos acreditam que esteja pronta. As pessoas felizes entendem que a felicidade é a obra de uma vida construída dia após dia, por isso nunca se acaba. É um projeto pessoal que pode e deve ser refeito, modificado, adaptado, criado e recriado quantas vezes julguemos necessário.

Mas as pessoas ficam sentadas em cima do muro. Milhões de pessoas sentadas em cima do muro esperando que algo aconteça. Mas nada acontece ao acaso. Nada se produz através de magia. Nada acontece quando os tolos bem intencionados acabam cedendo ao impulso de qualquer afetação supersticiosa. E não ouça seu coração. Ele não fala, não pensa, e nunca é aquilo que pensa ser, porque o único órgão que pensa é a cabeça. E só.


Denise Oliveda Kirsch

 

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