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Do Jeito De... Narrativas e Fragmentos Autobiográficos.

 

A vida de cada um de nós é uma espécie de empilhamento. São camadas possíveis que fundamentam a vida, e na minha não poderia ser diferente. Os textos que escrevi até aqui são uma recopilação de textos que havia publicado no blog anterior, cujo nome segue sendo o mesmo.

Aqui comparto minhas experiências vividas desde janeiro de 2015, um divisor de águas em minha vida. Depois de ter vivido a experiência do fracasso e testemunhar a frágil construção do meu conto de fadas desabar como um castelo de cartas, estar mais velha e menos ansiosa, mais equipada emocionalmente para essa nova caminhada, surge agora essa necessidade de trabalhar os mesmos textos, porém com o vigor de uma nova mirada e o frescor de novas interpretações. 

Penso que trago um pouco mais de luz aos matizes sombrios de alguns textos originais – os fantasmas que se despregavam das palavras e continuamente me assombravam, a criança ferida, presa em um passado dolorido, a mulher em lascas despedaçando-se entre a rejeição e a aceitação parcial, e a busca incansável por um sentido num mundo de alegrias instantâneas e recorrentes desastres. Enfim, a mudança no layout e no conteúdo da escrita apara as arestas, suaviza asperezas, aclara sentidos e renova significados.

Nos primeiros meses de 2015, vivi uma espécie de esvaziamento. Uma transição de um modo de ser para outro. Estava apenas começando todo um processo. E há um espaço de tempo para tudo se formar, não é mesmo? Por isso viajei aos Estados Unidos e depois Uruguai. Fui em busca de um tempo de lucidez. Algo que me resgatasse e me aproximasse como uma lupa de tudo aquilo que sempre quis para mim.

E a Argentina tem sido exatamente isso: Meu lugar e minha paz. Porque a vida não precisa ser um constante movimento em direção a alguma coisa ou lugar. Tão pouco empreender viagem entre passado e futuro. Nem da juventude para a velhice, nem do nascimento para a morte. A totalidade da vida não é igual à soma de suas partes. Não existe soma. O homem adulto não está envolvido na vida com mais profundidade do que um recém-nascido. Sua única vantagem é que de vez em quando pode lhe ser dada a consciência da substância dessa vida, e a menos que seja um tolo, ele não procurará por esclarecimentos. Porque a vida não precisa de justificação, precisa de esclarecimentos. Mas o fato é que, de qualquer lado que seja abordada, o resultado é o mesmo: a vida pela vida, o fato transcendente do indivíduo vivente. E ainda que doa, viver é preciso e todos precisamos encontrar motivos para vivê-la na sua plenitude.

Hoje começo a descortinar os contornos do caminho, comemorando o que construí ao longo dessa trajetória nos últimos cinco anos vivendo na Argentina. E é com uma profunda alegria que agradeço por cada decisão tomada, pois sou o testemunho de que outro modo de vida é possível. Que correr risco vale a pena. Ao comprometer-me num processo permanente de mudança, celebrei e dei graças à coragem que nem sabia que tinha. Descobri que para construir um novo caminho, por menor que seja, existe uma maravilhosa teia de movimentos que são os caminhos da condição humana. 

Do Jeito DE, completa e ocupa um terreno até o último bastião. Preenche os espaços vagos que ameaçavam a compreensão com relação ao que eu tenho e quero dizer.

Meu objetivo será alcançado? Não há como saber. Mas é o que tenho em minhas mãos são as experiências vividas. E o resto, que não é muito me foge completamente. 

Sim, às vezes é um negócio difícil esse de dizer e escrever o que me ocorre.

 

 Denise  Oliveda Kirsch

 

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