Aquele terá sido nosso último encontro. E jamais se repetirá
no mesmo contexto, com a mesma emoção. Acabava-se num fim de tarde de domingo, quando
o sol também nos abandonava, tudo o que um dia havíamos sido ou pensávamos
haver sido: Amigas. O nosso sempre foi um sentimento frágil, ameaçado e de fim certo,
pois no fundo sabíamos que um dia se daria.
Até pouco tempo atrás, eu teria dito que Uruguai era casa,
porque me ocorreu ficar e tocar a vida desde lá, solução ao menos temporária
para as incontáveis dúvidas de onde e como recomeçar. Porém, numa primaveril
manhã de novembro de 2015, com um magnifico céu estampado de azuis, onde nuvens
corrediças passavam em projeções, desembarco no terminal do Buquebus em Buenos
Aires, vinda de Montevideo.
País de meus ascendentes, de onde trago ensinamentos, hábitos, histórias e traços culturais, Argentina é também lugar que reverbera a nostalgia do último abraço em meu amado avô Benjamim - lembro que em uma frase curta meu mundo ruiu: "Seu avô morreu". Aos nove anos, ia-se ali o meu primeiro amor.
Argentina, espaço geográfico permeado por vozes de um idioma que identifico, perpetua em mim parte daquilo que me faz quem sou. País que sempre se manteve em meu coração, agora é também ambiente intimamente familiar, onde meu avô vai comigo norteando o meu caminho.
Reencontrar com o ambiente portenho, lugar no mundo
inteiramente conhecido para mim - mas para muitos brasileiros é apenas a terra
berço do tango, que ocupa mais os imaginários do que os itinerários. Há muito
desconhecimento de um lado e de outro, provocado tanto pelo idioma quanto pela
falta de uma maior união entre nós - hoje cumpre a função de ponte. Construção
resistente que se fortifica sobre as colunas do passado que agora se erguem mais
altas para alçar o futuro que começo a construir.
Viver em Buenos Aires não foi algo planejado. Foi um itinerário que se formou no fim de tudo. Construído sob o pó do que sobrou dos dias vividos no Uruguai, que para minha surpresa, mesmo tendo nascido num contexto ruim, ainda assim, algo de bom brotou - não sei, mas creio ferozmente nas obras do destino.
Um destino que somente eu posso criar quando assumo com total responsabilidade tudo que diz respeito a mim, ou seja, minha vida pessoal, emocional, afetiva, financeira e profissional. Porque não existe magia. Nada acontece se eu não trabalhar, focar e potencializar todas as minhas ações em direção ao que eu quero. Porque esse é o ponto de partida para construir a minha história e conquistar o mundo que quero para mim. O resto é pura bobagem e ilusão.
Munida desse sentimento, e com um projeto na cabeça, busquei o que era meu, sem deixar que nada me desviasse do caminho - o único, o meu e que também é de outros de alguma maneira.
Na vida de todos nós acontecem milhões de coisas. Algumas
extraordinárias e outras muito ordinárias. E quando acontecem as
extraordinárias, junto vem a tão sonhada felicidade também. Mas sabe o que é
mais curioso? A gente às vezes não espera a felicidade. A gente espera as
coisas difíceis e sofridas. Aquelas que perturbam, acionam coisas e criam algum
tipo de insatisfação.
Mas hoje já posso falar sobre isso. Já posso falar da felicidade que agora abunda, mas que sempre me faltou.
Denise Oliveda
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