Querido sobrevivente, para você, assim como eu, que sobreviveu a pandemia, e segue sobrevivendo aos atropelos da vida, te desejo uma vida feliz. Porém, mais do que uma vida feliz, te desejo uma vida interessante. Uma vida plena. Na íntegra, em sua totalidade e realidade. Desejo que vivas sem a necessidade de varrer nada para debaixo do tapete. Que vivas uma vida verdadeira, convivendo de forma plena com cada sentimento. Com sabedoria, aceitação e entendimento de que a natureza das emoções e anseios é cíclica. Como tudo na vida, tem seu começo, meio e fim. Desejo que tenhas uma vida plena sim, mas não linear. Porque a linearidade impede que sinta seu coração bater, subir e descer. Por isso, quando não consiga senti-lo vibrar, crie motivo para sentir-te capaz. Sempre. A vida é preciso viver-la como se apresenta, porque a felicidade nem sempre chega pronta, embrulhada em papel de presente, ela está, entre outras coisas, em exercitar, criar e transformar a realidade no nosso entorno
Passaram-se dois anos. Dois anos sem escrever. Dois anos de completo e total abandono. Depois da pandemia decidi apenas viver. As experiencias e aprendizados me motivaram a seguir em frente, a crer que é possivel recuperar algo precioso depois do caos. O confinamento e a angustia me mostraram que, às vezes, é preciso deixar de lado tanta obstinação e apenas viver. Mesmo quando viver signifique um risco, os dias se mostrem mais áridos, a fome desapareça entre rótulos e embalagens, o ansiolítico passe a ser um escape, e o isolamento um silencio, ainda assim, sempre encontrarei coragem suficiente para descer até as profundezas e voltar. Porque essa tarefa delicada e complexa, permeada de oscilações e fraturas, é também, vida que flui. Às vezes, esquecemos que a existência não é linear. Que brisas leves ou ventos súbitos podem mudar nossas órbitas de lugar, mudando nossos pontos cardeais com a mesma precisão de uma bússola competente, pois desconhecemos a força e o empenho do acaso,