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Querido sobrevivente

  Querido sobrevivente,  para você, assim como eu, que sobreviveu a pandemia, e segue sobrevivendo aos atropelos da vida, te desejo uma vida feliz. Porém, mais do que uma vida feliz, te desejo uma vida interessante. Uma vida plena. Na íntegra, em sua totalidade e realidade. Desejo que vivas sem a necessidade de varrer nada para debaixo do tapete. Que vivas uma vida verdadeira, convivendo de forma plena com cada sentimento. Com sabedoria, aceitação e entendimento de que a natureza das emoções e anseios é cíclica. Como tudo na vida, tem seu começo, meio e fim. Desejo que tenhas uma vida plena sim, mas não linear. Porque a linearidade impede que sinta seu coração bater, subir e descer. Por isso, quando não consiga senti-lo vibrar, crie motivo para sentir-te capaz. Sempre. A vida é preciso viver-la como se apresenta, porque a felicidade nem sempre chega pronta, embrulhada em papel de presente, ela está, entre outras coisas, em exercitar, criar e transformar a realidade no nosso entorno
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É preciso (apenas) viver

Passaram-se dois anos. Dois anos sem escrever. Dois anos de completo e total abandono. Depois da pandemia decidi apenas viver. As experiencias e aprendizados me motivaram a seguir em frente, a crer que é possivel recuperar algo precioso depois do caos. O confinamento e a angustia me mostraram que, às vezes, é preciso deixar de lado tanta obstinação e apenas viver. Mesmo quando viver signifique um risco, os dias se mostrem mais áridos, a fome desapareça entre rótulos e embalagens, o ansiolítico passe a ser um escape, e o isolamento um silencio, ainda assim, sempre encontrarei coragem suficiente para descer até as profundezas e voltar. Porque essa tarefa delicada e complexa, permeada de oscilações e fraturas, é também, vida que flui. Às vezes, esquecemos que a existência não é linear. Que brisas leves ou ventos súbitos podem mudar nossas órbitas de lugar, mudando nossos pontos cardeais com a mesma precisão de uma bússola competente, pois desconhecemos a força e o empenho do acaso,

Egito, do caos ao êxtase.

  Desde os tempos de escola, minha ideia sobre o Egito foi sendo construída através da beleza e importância que o Egito Antigo tem na história da humanidade e sua civilização, pois o avanço do Egito em relação às demais civilizações da época era notável. Muito antes dos romanos, faraós já edificavam grandes construções dando origem às primeiras versões do que seriam as Pirâmides do Egito. E em 2018, dando sequencia ao meu calendário exótico de destinos, tive o privilegio de visitar esse país tão impactante e cheio de contrastes. Desde Luxor, onde vida e morte ocupam cada uma sua margem do Rio Nilo, sendo que na margem ocidental está o Vale dos Reis e Rainhas, territórios sonhados por arqueólogos, na margem oriental está o Templo de Luxor e Karnak, que com suas colunatas imensas que se abrem em praças e se fecham em corredores, são de tirar o folego.   Em Luxor embarcamos em um pequeno cruzeiro com duração de quatro dias pelo Rio Nilo, fonte de vida e indispensável num país que poss

China, sempre presente em mim.

  Quem viaja adquire conhecimento e cultura através de uma experiência própria, portanto, somente tem validade e especial significado para quem viveu tal experiência. Ou seja, poderíamos até ter a mesma experiência, mas talvez não se adaptasse ao nosso gosto, emoções e sentimentos da mesma maneira como foi para o outro. E essa dedução é óbvia, pois somos seres humanos singulares, cada qual com sua carga emotiva, sentimental e anímica, seja em qualquer lugar no mundo. Por isso, não é em vão que existam pessoas que sintam atração por certos países, enquanto que outras, nem desejo de conhecê-los têm.  E o bom viajante, aquele que possui um coração que sente, observa e guarda para sempre o momento vivido, sabe que também viaja para aprimorar-se internamente, porque viajar é uma das melhores maneiras de expandir a consciência e deixar que as preocupações desapareçam junto com outras formas de apego. Portanto, quem não estiver aberto a valorar um simples recorrido sem preconceito ou opin

Viajar é preciso.

  Com toda a tecnologia que hoje dispomos, comodamente passamos do bairro em que vivemos para qualquer outro lugar no planeta, basta apenas um computador. Acessamos um mapa via satélite, damos um zoom poderoso capaz de transformar um amontoado de pixels em qualquer escala que necessitemos, e pronto. Rapidamente podemos visitar uma cidade inteira, e conhece-la em detalhes através de imagens e informações vistas a partir do céu. Porém, nada mais abstrato. Nada menos realista. Uma imagem de satélite nos permite perceber uma cidade e toda sua região, mas decompõe-se em múltiplos écrans no momento em que descemos a terra. Para conhecer de fato é preciso deslocar-se fora da tela. É preciso viajar. Só assim se aprende verdadeiramente a conhecer um lugar, pois é através da visão subjetiva, personalizada e individualizada que fazemos nossa própria compreensão do lugar. É no somatório das dimensões geográficas, simbólicas, emocionais, culturais, políticas, biológicas e religiosas que criamos

Patagonia Argentina, meu lugar no mundo.

  Desde que cheguei à Argentina, - e lá se vão quase oito anos -, sonhava em conhecer a Patagônia, região de aproximadamente 930 mil quilômetros quadrados que abrange uma vasta área no extremo sul do país, mas que também possui uma pequena extensão além da fronteira com o Chile. Caracterizada pelo clima frio, baixas temperaturas, nevadas, glaciares espetaculares e majestosas montanhas, a região é conhecida e muito procurada justamente por essas incríveis paisagens. Mas também há pelo caminho muitas planícies áridas, pastagens e desertos, cenário desconhecido para a maioria, pois somente desfruta dessa paisagem quem decide se aventurar de carro. E foi o que fizemos. Iniciamos nossa viagem no dia 04 de janeiro de 2016, partindo de Buenos Aires, a bordo de um confortável Toyota Corolla. E quanto mais nos afastávamos de Buenos Aires, mais fascinada eu ficava com as paisagens panorâmicas. Ora eram grandes desertos, ora uma natureza exuberante e sedutora. E essa alteridade fascinante de

Há muito mais para ver além da colina.

  Sempre soube que chegaria o dia em que poderia abraçar o horizonte, contemplar e ascender ao céu, espalhar-me entre as nuvens algodoadas, e no silêncio da realidade palpável e o devaneio, dar asas ao que trago dentro e voar. Sempre soube que sou uma pessoa com asas. Não sou do tipo que cria raiz. Há que deixar ir. Há que voar. Quem deixar ir dá às pessoas uma escolha, capacita e liberta. Observe o voo de um pássaro. Jamais irá vê-lo carregando, puxando ou arrastando outro pássaro consigo, pois ambos não seriam capazes de voar.   Ambos cairiam ou teriam muita dificuldade para continuar. E aqui estou eu, seguindo no meu voo independente, solo e feliz. Abraçando a cada novo dia o horizonte que se apresenta - e sempre que o horizonte me sinalize o limite do olhar, sei que o mundo ali não se esgota. Estende-se muito além daquilo que eu possa enxergar. E assim é. Ascendi ao céu e voei. Nos últimos oito anos viajei   o mundo. Este mundo tão incrivelmente vasto, que às vezes, quase p